#46 Um dia de cada vez, mais uma vez
How we spend our days is, of course, how we spend our lives. What we do with this hour, and that one, is what we are doing. A schedule defends from chaos and whim. It is a net for catching days.–A.D.
1Dia 13 de julho estive no Porto para a leitura colectiva de excertos das cartas.design, um projeto da Joana&Mariana, para o qual gentilmente me convidaram em 2022, e que ganha facilmente um lugar de favorito em todos com quem se cruza. A minha carta já não está disponível por correio, mas podes lê-la aqui. (curioso como parece ser o embrião do que viria a ser o A partir daqui, não é?)
Encontrei várias pessoas que já não via há algum tempo. Também conheci outras, cujo trabalho admirava através do ecrã, agora ao vivo pela primeira vez, como a Ana Sabino, a Lisa Moura e a Isabel Duarte.
A Isabel criou o Errata, no seguimento do doutoramento que está a fazer, e tem sido, da minha perspectiva, incansável e coerente em produzir conteúdo com muito, muito critério, como se pode ver neste site, no podcast, nas conversas, na exposição e no seu catálogo.
Dada essa admiração, fiquei surpreendida e achei muito engraçado quando ela me perguntou, enquanto trocávamos dicas sobre podcasts, como é que consegues lançar tanta coisa?
É que, para mim, é ela que faz muita coisa.
É que, do meu lado, a resposta é não consigo. Esta semana voltou a não sair episódio do Fazer Preços e Assim, há mais de uma semana que não publico conteúdo novo em redes, esta newsletter está a ser enviada numa segunda-feira em vez da habitual quinta, e até a newsletter dos prazos teve um ligeiro atraso. Para não falar do doutoramento que tem de estar escrito até ao final do ano, e claro, não esquecer que o meu trabalho é ser designer e tenho 4 projetos em aberto de momento (uma brochura a começar, um conjunto de capas de mostruário para rever, um guia a aguardar por mais revisões, e uma adaptação de marca para espaços de escritório em curso).
Mas a verdade é que não trabalho-trabalho muitas horas. Para ser precisa, as contas dizem que, nos últimos 20 dias trabalhei 55 horas neste conjunto de projetos, o que dá uma média de 3 horas por dia, mais ou menos. No fundo, metade do meu dia sou mãe, e na outra metade sou tudo o resto. É cansativo e às vezes frustrante, porque nem todos os dias me apetece ser as mesmas coisas à mesma hora e com a mesma intensidade.
O pai, idem, porque fazemos isto em simetria.
Quem olha para o nosso calendário jura que não temos um minuto livre. Pelo contrário: os horários e os calendários servem para criar redomas invisíveis e resistentes à volta do tempo que queremos livre. Se não o protegermos, é o primeiro a ser descartado quando é preciso marcar só-mais-uma-reunião.
Por isso, a pergunta mais importante a fazer é mesmo – para onde vai o pouco tempo livre?
Hoje passo muito tempo com os meus pais, ou com os meus sogros, ou podemos decidir ir à praia a meio da semana, ou tiro a tarde para ler enquanto o Sancho dorme a sesta. Não é o tempo livre mais entusiasmante, admito; há poucas festas e nem me lembro da última vez que estive fora de casa depois da 22h, mas é o possível nas circunstâncias de hoje.
Há 5 anos ficava a ver filmes até às 4h e acordava às 12h, numa casa enorme na aldeia, silenciosa. Foi uma boa fase. Há 8 anos trabalhava num hotel até às 22h, o Francisco muitas vezes só chegava à meia noite e tínhamos 4 gatinhos recém-nascidos a subirem-nos pelas pernas, num apartamento minúsculo. Era bom. Também foi um boa fase. Hoje essas rotinas pertencem à ficção. O nosso contexto muda e as possibilidades mudam com ele, para o mal e para o bem. Essas mudanças são como o virar da página para novo capítulo, que daqui a 5 anos vai parecer ficção também, mas se calhar vai deixar saudades, por isso mais vale tentar lê-la, um dia de cada vez.
Até breve,
Sofia
Para seguir
The Achievers Club
The Achievers Club2 (anteriormente chamado Clube das Ricas Remotas) é uma comunidade efervescente de pessoas de várias áreas que estão à procura de mudar de trabalho, área profissional, encontrar um trabalho remoto ou só fazer dinheiro extra. A relação preço/valor é incrível e a Margarida (que gere a comunidade) é extremamente cuidadosa e dedicada.
A comunidade funciona na Mighty Networks e está mesmo bem organizada. É das parcerias que mais me dá gosto ter e ver crescer 💝 é tão bem feito! Continua a parecer amigável e acolhedor, mesmo com 400 membros ativos. Juro, não sei como é que ela consegue.
Ao entrar, tens acesso a um resumo semanal de ofertas de trabalho remoto (!), gravação de masterclasses (sobre carreira, finanças pessoais, e até uma minha sobre o Segundo Cérebro!), ferramentas para ajudar na procura de trabalho remoto, um Guia de Optimização do CV, e muita, muita ajuda entre membros.
O grupo do whatsapp é muito ativo! Há sempre membros a sugerir cursos gratuitos e outras descobertas boas pelo mundo da internet. Mas não temas, também há um resumo mensal do que se passou de mais importante por lá, a pensar em pessoas como eu, que podem ter dificuldade em acompanhar grupos.
A anuidade vai passar a 55€ a partir de 31 de julho! Conselho de amiga.
Da internet
Graphic Design Reading
Tinha um professor que nos aconselhava repetidamente a criarmos, mesmo que fosse devagarinho, a nossa própria biblioteca de livros sobre design. Bem, isto é o trabalho quase todo feito. Agora só falta A) gastar dinheiro ou B) procurá-los em bibliotecas e pedir aos amigos que já se tenham adiantado.
Ler/ver/ouvir
Why don’t rich people eat anymore? Sim, o meu primeiro pensamento também foi “como assim?”, mas pensando melhor… não é? Entre suplementos, refeições líquidas e jejuns longos, estamos a entrar uma nova era muito curiosa, uma espécie de um novo nível de optimização (ou aparência dela).
Semana de 4 dias: A minha experiência como freelancer, escreveu a
o mês passado sobre o que aconteceu quando experimentou trabalhar de segunda a quinta durante 2023. Para o que foi usado o tempo extra? O que pode esperar um freelancer? Para ler no . No final, a conclusão reforça o escrevi na introdução desta edição: “a tomada de consciência serviu de alerta: se não fizer nada para preservar o meu tempo livre, todos os incentivos vão no sentido de o ocupar.”Entretanto, no luscofia
No A partir daqui saiu os episódios com a Francisca Sottomayor e a Daniela Barbeira. Duas ex-futuras designers que são de facto designers, ambas em Londres, e ambas mudaram do design gráfico para o experience design, mas de maneiras muito diferentes: a Francisca está no Telegraph, a Daniela no Transport for London. Uma foi para Londres sem plano e foi experimentando e ficando, outra fez carreira em vários estúdios em Barcelona até se mudar para Londres para fazer o mestrado na Central Saint-Martins que, enventualmente, a levou ao gabinete de transportes.
Esta semana são as últimas aulas Como ser Freelancer, 4ª edição, a formação que tenho feito com a Factory Braga. É a última edição, as últimas aulas, e esta turma está a ser tão boa! Motivou-me a dedicar mais tempo a melhorar aulas que já estavam preparadas e a criar novos materiais.
No subtítulo, A.D. é Annie Dillard, que não cabe por limite de caracteres :~)
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Muito obrigada pela menção, Sofia! E obrigada por continuares a escrever esta newsletter e a criar conteúdo que não só é útil como inspira e faz pensar. O dia em que sai não importa, importa que continue a sair :)