#54 Regresso às aulas (de informática)
Everyone you will ever meet knows something you don’t.–Bill Nye
Em outubro recomecei a dar aulas de informática na Universidade Sénior, em Vila Real. Já tinha sido professora entre 2018 e 2020 e muitos dos alunos são os mesmos. Têm entre 60 e 80 anos e vários graus de dificuldade. Da primeira vez, a minha aluna mais velha era a Dona Lurdes, que tinha 92 anos, mas entretanto, com a pandemia, foi para um lar (onde, segundo consta, aproveitava o facto de ser das ocupantes com mais clareza mental para ganhar a toda a gente nos jogos às cartas).
Esta semana, a pedido de dois ou três, preparei uma aula sobre o uso do teclado. Incluía explicações breves e alguns exercícios de “ginástica para os dedos” em escrita no computador. A maior parte deles achou extremamente aborrecido, porque sentiram a mesma resistência de quem está a aprender uma língua nova. Podia ser divertido, mas há demasiado atrito. Estava demasiado acima da flow zone.
Para nós (eu e tu), que usamos o computador e o telemóvel todos os dias, é muito fácil esquecermos que isto é um tipo de destreza motora que aprendemos e treinámos repetidamente (escrever no teclado, usar o rato, posicionar as mãos num computador portátil pequeno). Mas não é só isso – também há um vocabulário, escrito e gráfico, que assimilámos ao longo do anos . Sabemos que o sinal “+” significa nova mensagem, novo documento, novo tudo; sabemos como se parece uma seta/botão de atualizar a página; sabemos que a estrela ou o coração serve para marcar um favorito; que um balão de fala é um comentário; que uma seta para baixo um download, para cima um upload; que um clip é um anexo.
Designers dirão que são problemas de design, porque temos este hábito desconfortável de sermos uma disciplina com contornos pouco definidos e por isso enchemos os bolsos com modos de resolver os problemas do mundo e chamamos-lhe design thinking.
É mais do que isso, claro. Nem o mais intenso UI/UX Design consegue resolver o problema dos meus alunos, para quem não é óbvio que a informação se procura nas laterais (sidebars) e que 3 traços horizontais é um menu colapsado. Como a qualquer principiante em qualquer área que combine novas capacidades motoras e cognitivas: falta-lhes a prática, porque – para nós, que debatemos o “tempo de ecrã” parece irónico – não encontram motivos diários para usar o telemóvel, e ainda menos o computador.
Até breve,
Sofia
Para seguir
Maria Manō
Não sigo muitos designers, mas os que sigo tendem a ser pessoas com quem sinto afinidade. A Maria é uma dessas pessoas, cujas partilhas me fazem sempre sentir que, calhasse a geografia ter-nos juntado numa turma/atividade/situação, íamos ser muito amigas. Admiro a forma como organiza o trabalho, como o apresenta, e como transmite esta ideia – de que todos precisamos de ser lembrados de vez em quando nesta era de redes sociais – que somos multi-dimensionais, com multi-interesses e multi-ambições, a chave está no equilíbrio.
Da internet
Guias do Creative Independent
Guias de tudo-e-mais-não-sei-o-quê para criativos independentes. Desde como planear financeiramente, saber mais sobre direitos de autor, como construir um site, como criar uma comunidade. Sempre no tom habitual do Creative Independent. Um bom estojo de ferramentas, de acesso livre.
Ler/ver/ouvir
Este ano foi lançado o Atlas Artístico e Cultural em Portugal, um estudo encomendado pela DGArtes. É um conjunto de dados de base territorial sobre a cultura em Portugal, muito relevantes porque trazem mais factos e menos acho que. Uma das conclusões é que se notam as tentativas de corrigir assimetrias entre municípios (particularmente interior vs litoral), mas ainda há muito a ser feito. O relatório identifica 76 municípios como “de baixa densidade cultural” e sugere que sejam alvo de um programa específico que aumente a coesão territorial neste sector.
The creator economy could approach half-a-trillion dollars by 2027. Sem esquecer que “creator economy” também embeleza o facto de sermos milhões de minions a criar conteúdo para plataformas que não nos pertencem, a questão parece ser que a onda de mudança no trabalho (e na expectativa sobre o trabalho) continua em grande força. Quando a barreira de acesso à construção de um negócio digital é tão baixa, quem é que quer trabalhar num café? É sedutor entrar nesta corrente.
The Dramatic Turnaround in Millennials’ Finances. Pois é, também não sinto o que o título diz. Lendo o artigo percebe-se que estamos a falar sobretudo de Millenials mais velhos, que compraram casa no pico da crise, numa altura em que eu, pelo menos, nem sabia o que isso significava. Ainda assim, é interessante ver como a coisa “deu a volta” e já não somos a geração mais pobre que a anterior – mesmo que a frase que nos descreva melhor continue a ser “deep down, we kind of fear that one day things can fall apart”, como um dos entrevistados refere.
Entretanto no luscofia®
A semana passada estive na ESAD Matosinhos a dar uma aula da nova UC de Gestão de Projeto. Continua a ser das coisas que mais gosto de fazer, ir às universidades falar sobre orçamentos, preços e contabilidade: revejo-me em todos eles, na ânsia de aprenderem qualquer coisa prática que os ligue ao mundo real.
Estive no Incrietação, o podcast da Gisela à volta da criatividade. Já não gravava episódios há muito tempo e fiquei com vontade de retomar, já que o Fazer Preços e Assim está parado há alguns meses. O episódio do Incrietação pode ser ouvido no YouTube aqui.
Podem ter encontrado o meu nome numa das últimas edições da newsletter Ambiente de Trabalho, do Público, que me fez uma entrevista breve sobre finanças pessoais em contexto de trabalho por conta própria.
Aconteceu o Parentalidade para Freelancers, 2ªedição! Continua a ser das minhas formações favoritas, ainda mais agora que os materiais em PDF estão melhores e mais valiosos. A gravação do webinar + materiais está disponível no site para compra (acesso permanente). Também podemos marcar uma sessão 1:1 para ajuda a planear licença parental como independente.