#50 Terminar uma micro-Era, começar outra
Most of the time you don't need more information, you need more courage.–James Clear
A semana passada estivemos em Lisboa. A apresentação do livro da Ana Vargas Santos (do qual escrevi o prefácio) deu o mote; o meu aniversário ter sido no dia 20 prolongou a estadia; e querermos fazer umas últimas férias de família de três selou o acordo: uma semana na capital, com direito a jardim zoológico, Oceanário e muitos passeios na rua para ver motas (a atividade de eleição).
Pois é — em janeiro vamos passar a ser 4! 🤰
Há no ar uma nostalgia pela dinâmica que temos hoje — o triângulo é uma forma muito forte! — e temos tentado aproveitar o máximo possível estes últimos tempos de 2 adultos para 1 criança, que, apesar de tudo, ainda é tão bebé.
O mais importante que fizemos foi ter passado um mês na ilha Terceira, entre abril e maio. É daquelas coisas que não achei que ia ser possível tão cedo, e que, agora que o fizemos, não sei como é que seria possível mais tarde. A verdade é que, como trabalhadores por conta própria, gostamos de nos dizer “livres e flexíveis”, mas depois pouco fazemos para tirar real partido dessa flexibilidade.
Eu, que não tenho uma gota de espírito nómada em mim, não anseio por viajar o mundo sem poiso fixo, enquanto trabalho. Só escrevê-lo já fico cansada! Mas tinha este plano de aproveitar a flexibilidade para conseguir viajar mais. devagar.
É muito diferente passar um fim-de-semana ou um mês no mesmo sítio. Um mês, embora não permita que nos sintamos “locais”, consegue fazer com que se crie um sentimento de pertença, e que, mais do que recordações turísticas, levamos daquele lugar uma memória que ferveu lentamente, apurou, e no fim não é um dia, nem dois, mas uma rotina, uma época, uma micro-Era.
Se gostavam de fazer o mesmo, deixo-vos o que fizemos bem e o que fizemos menos bem:
👍
Planeámos com tempo e espalhámos as despesas. Uns meses antes saiu a despesa do alojamento (Airbnb) e depois a dos voos, que eram as maiores. Isso, e termos posto algum dinheiro de lado, deu-nos folga para não sentir o rombo nas contas.
Fizemos a nossa vida normal, com mais excepções. Refeições em casa, a maior parte das vezes. Sim, claro, se não houvesse um bebé de ano e meio envolvido provavelmente teríamos gasto mais em restaurantes :~)
Tivemos visitas! Os meus pais visitaram-nos num fim-de-semana e um casal amigo visitou-nos durante uma semana. Acabámos por alugar uma casa maior, então ficavam na “nossa casa”. Foi bom para ter alturas de passeios mais turísticos, alugar carro (faz mais sentido dividindo com mais gente, porque é caro), e conseguirmos alternar o modo trabalho e o modo férias.
👎
Trabalhar foi muuuuuito mais difícil do que tínhamos previsto. Ao contrário do que acontece em casa, não tínhamos um espaço dedicado, e acabávamos a trabalhar no sofá (e só na hora da sesta!). Optámos por uma postura de “fazer os mínimos”, que é quando estamos a responder ao que é pedido mas não começamos nada novo.
Subestimámos o nível de energia que íamos ter ao estarmos isolados, numa ilha, com um bebé em transição de sestas e toda uma parafernália de metas de crescimento. Não lutámos contra isso e escolhemos passear mais para ele do que para nós — jardins, praia, comer gelados, ir ao mercado, andar de autocarro, brincar. Serviu para ter uma amostra do que é ter filhos sem qualquer apoio à volta, nem avós, nem escola, nem babysitters, nem amigos.
Por estas e por outras, a lusco-fusco é bem capaz de ter uma secção dedicada à parentalidade para freelancers — sem data! — este não é bem o espaço, mas há tanto a pensar sobre isso. Tinha criado um substack só para isso, que podem subscrever como manifestação de interesse, mas provavelmente será uma nova secção.
Na próxima edição, de regresso aos temas habituais.
Até breve,
Sofia
Para seguir
Paula Cermeño León
Conheci a Paula quando estava em Erasmus em Saint-Etiénne e continuei a acompanhar o trabalho dela. Não me cruzo com muitos designers de produto (vivemos todos numa bolha?), mas os projetos da Paula, em particular aquele em que desenvolveu adesivos e compressas com materiais endógenos do Peru, de onde ela é natural, são tão delicados e empáticos que automaticamente ganharam um lugar no meu imaginário.
Da internet
Submarine Cable Map
Esta semana li em três noites este livro de miniaturas históricas (de novo o Stefan Zweig) e uma das histórias era sobre a ligação (finalmente!) por cabo por baixo do Oceano Atlântico. É tão imediato para nós e damos tão como garantida a comunicação rápida que nem pensamos nas infrasestruturas que isso implica.
Ler/ver/ouvir
6 Things Productivity Experts Do When They Come Back To Work After Vacation. O regresso já lá vai, mesmo que tenha sido há poucas semanas, mas mesmo assim os conselhos também são úteis para segundas-feiras mais cheias.
O conceito de Meta-work, explicado neste texto curto do Rad Reads. Não é procrastinação, é uma coisa diferente e muito reconhecível, sobretudo para quem entra na armadilha de sentir que tem de aprender mais antes de começar, sempre – mais cursos, mais formações, mais experiência, até chegar o momento certo.
Decomposing light, um vídeo sobre a divisão de cores num feixe de luz com papel cortado e uma vareta. CMYK e RGB fora do digital, muito hipnótico.
Por falar em empatia, este gif de um menino a aquecer a sua cabra de estimação, que é das coisas mais adoráveis e inocentes que encontrei ultimamente.
Parabéeeens Sofia!
Parabéns pela novidade, Sofia! Deste lado, mais uma leitora a enviar boas energias 🥰
Vou ler o artigo do meta-work com atenção, porque suspeito que posso estar a desviar-me para esse caminho. Agora tenho mais tempo para os Terceiros Lugares, mas tenho noção de que quem me segue ainda não percebeu...! Mea culpa 🥴 Obrigada pelas tuas partilhas. Até breve.